A estreia de “Machete Kills” levou-me a rever o original antes de ir até à sala assistir ao regresso do mais selvagem, latino e macho dos action heroes contemporâneos.
Machete Cortez é um federale que se vê traído por um colega. A traição atinge o extremo quando o colega mata a família de Machete. O herói vive como um vagabundo, aceitando todo o tipo de trabalho que lhe surge. Um dia, um ricalhaço oferece-lhe um trabalhinho bem pago – matar um politico (ora aí está uma profissão com futuro; e por cá, até se matava de borla). Parece ser um trabalho fácil, mas Machete volta a ser traído. Deixado como morto, Machete inicia a sua vingança. Como ajuda tem um par de beldades (uma determinada agente e uma aguerrida revolucionária) e entre os inimigos estão feds e até políticos. Nada que não se resolva com uma viril catanada.
Quando Robert Rodriguez e Tarantino se meteram no projecto “Grindhouse”, de 2007 (Rodriguez assinou o desconcertante “Planet Terror”; o de Tarantino era o “feminista”, “machista” e divertido “Death Proof”), procuraram emular o espírito das sessões grindhouse que tanta glória fizeram nos 70s entre o género Z.
Infelizmente a Europa não consumiu esse espírito cinéfilo (somos mais cultos, sofisticados e inteligentes – diz-se, nestas coisas de cinefilia) e assistimos aos dois filmes do projecto exibidos em separado.
Foi uma grande perda para o cinéfilo mais purista, pois o gozo estava em ver os dois filmes em conjunto (assim aconteceu nos USA, mas perante o flop nas bilheteiras – custo superior a 50 milhões de Dólares, receitas de 25; que diabo, fazer série Z hoje em dia sai caro!!! -, optou-se por exibir os filmes em separado, tanto pelo desconhecimento do europeu sobre tal tipo de session, como para potenciar mais receitas). Isto porque entre os dois filmes exibiam-se um conjunto de trailers (falsos) de coming movies, mas que nunca seriam feitos (a piada estava aí). Edgar Wright, Eli Roth, Rob Zombie, Jason Eisener e o próprio Rodriguez assinaram esses trailers.
A popularidade deles foi tal, que chegaram a haver petições para se realizarem tais filmes. Eisener realizou o selvaticamente heróico “Hobo With a Shotgun” (noutro dia venho aqui falar dele). Rodriguez assinou “Machete”.
Eis os ditos trailers
O Projecto – http://www.tfmdistribution.com/grindhouse/
“Machete” surge num ano de grande euforia no action cinema. “The A-Team” adapta o cinema de acção 80`s aos tempos modernos. “The Expendables” refaz hoje o cinema de acção da era Reagan. “Machete” é um energético e entusiasmante regresso à série B (e/ou Z) dos 70`s e ao cinema de acção desse tempo.
O resultado não podia ser melhor.
Rápido, furioso, violento (há decapitações e mutilações), selvagem (Machete a usar como corda os intestinos de um inimigo), cinéfilo (o filme é um deleite para quem conhece e aprecia aquele estilo de cinema, cheio de referências e homenagens), despreocupado (o filme não procura seguir as regras da consistência e da densidade), libertino (Machete colhe favores sexuais da esposa e filha do vilão) e politicamente incorrecto (a forma como o senador combate a imigração clandestina; o filme é um “panfleto” pró imigração mexicana para os USA, legal ou ilegal). Rodriguez poupa nada e ninguém e lança-se de forma desbragada, cinéfila, apaixonada e entusiasmante a um tipo de cinema que fez glória. O (fantástico) elenco percebe a brincadeira e joga por igual (Danny Trejo é um herói muy macho, Robert De Niro goza com W. Bush, Jeff Fahey, Steven Seagal e Don Johnson – habitualmente vistos como heróis – são uns pérfidos e hilariantes vilões, Michelle Rodriguez e Jessica Alba desfilam os seus dotes físicos, que são muitos).
Um daqueles casos de culto e clássico instantâneo.
Imperdível, mas só para fãs.
(para os mais “cultos” será demasiado trashy – o que é verdade, mas nada há de errado nisso)
Site – http://www.machetemovie.be/