Eis o tão ansiado reboot a Superman, num ano em que se celebram 75 anos de aventuras do emblemático super-herói.
Algures numa galáxia distante, num planeta chamado Krytpon, um importante líder chamado Jor-El tem de lidar com a iminente destruição do seu planeta, um possível golpe de estado e com a salvação do seu filho recém-nascido. Consciente que Krytpton não é o lar adequado para o petiz Kal-El, Jor-El envia-o para a Terra.
Educado pelos Kent, Kal-El recebe o nome de Clark e cedo descobre que é um ser diferente devido a uns super-poderes que ainda não compreende nem controla.
A descoberta de quem é demora vários anos. Quando a jornada termina, Kal-El duvida se o mundo está pronto para o descobrir. A chegada dos antigos inimigos do pai e a ameaça que fazem ao planeta vão obrigar Kal-El a tomar uma decisão, a escolher um lado e a aceitar um destino.
Confesso que gostava de gostar de “Man of Steel”.
Pelo muito bom elenco, pela presença de David Goyer e Christopher Nolan no argumento (eles fizeram uma fantástico reboot a Batman que se traduziu numa trilogia de eleição), Zack Snyder na realização (o prodígio visual que assinou obras notáveis como “Dawn of the Dead”, “300”, “The Watchmen”, “Sucker Punch”, “Legend of the Guardians”) e todo o potencial que o universo do “visitante de Krypton” permite.
Mas não consegui. Não encontrei ponta por onde ser cativado.
Reconheço que o argumento bem se esforça em focar o drama existencial do herói, a sua relutância em mostrar-se a um mundo ainda não preparado para a descoberta da sua existência, a procura do seu lugar no mundo e destino, em mostrá-lo como um alienígena no nosso planeta, a relação entre ele e os humanos e como estes o podem ver como um Deus.
Mas a verdade é que tudo fica tratado de forma muito simplória, limitando-se a reciclar ideias da primeira metade do “velhinho” clássico “Superman” (1978, Richard Donner) – a origem, a descoberta dos poderes, como viver com eles – até à intriga de “Superman 2” (1980, Richard Donner e Richard Lester) – a chegada dos inimigos do pai do herói e a confrontação. Aqui e ali tenta-se uma certa profundidade, mas tudo fica pela mais banal das pretensões.
O argumento recorre (frequentemente) ao flashback, uma “táctica” habitual de Nolan, mas que aqui revela as suas limitações e fraquezas. É que são estes os momentos mais fortes e emocionais do filme, mas por serem (tão) curtos, não conseguem ser desenvolvidos e gerar a devida empatia e emotividade no espectador. Por outro lado, o argumento ressente-se (e muito) de uma (total e irritante) falta de humor (carago, Nolan e Goyer deram-se ao trabalho de ler a bd?).
A nível visual, a fotografia opta por uma estética que parece estar entre o monocromático, o P&B e o mostrar que não havia orçamento para luz. Os efeitos visuais não conseguem ser ground breaking como o clássico de 78 (aí, sim, acreditamos que o homem podia voar), mostrando que o homem voa, exclusivamente, devido a efeitos CGI e de som.
Quanto ao elenco:
Amy Adams está esplêndida (como seria de esperar), é ela que domina o filme e dá-nos uma Lois Lane corajosa, independente, dinâmica, adequada aos dias de hoje.
Laurence Fishburne, como Perry White, está com a solidez que nos habituou.
Russel Crowe dá toda aquela força épica humana que lhe reconhecemos (e até faz de Jor-El um muito capaz action hero).
Kevin Costner é comovente como Jonathan Kent.
Diane Lane, a Martha Kent, dá grande convicção maternal.
Michael Shannon, o vilão General Zod, é sempre impressionante.
O desastre está mesmo em Henry Cavill. O rapaz até tem rosto e físico a preceito, mas deixa a sensação que Cavill compôs apenas uma imagem e não um personagem. Como seria de esperar, nem aos calcanhares de Christopher Reeve chega.
Como seria de esperar também, e apesar de haver grande expectativa à volta disso, a música de Hans Zimmer é verdadeiramente rotineira, incapaz de atingir o sublime que John Williams conseguiu com o seu tema criado em 1978 (haverá alguém que não o saiba cantarolar?).
Por fim, a realização de Snyder. Tenho-o em bom apreço, mas aqui não tenho por onde o salvar. Se tom dark já destoa (porque é que tanta gente acha, nos dias de hoje, que um bom filme com super-heróis tem de ser, visual e emocionalmente, dark?), quando chega à dita acção, aí é que tudo descarrila. Snyder confunde acção com confusão (carago, não haverá um realizador, ao menos um, que aprenda algo com James Cameron?), o tom escuro da fotografia e a rapidez (ou atabalhoamento?) da montagem originam mais o bocejo e a dispersão da atenção do espectador do que a sua excitação. O nível de destruição é tal, que “Man of Steel” parece a versão Roland Emmerich do 9/11. E com tanto alienígena em cena contra tantos humanos, dá para questionar se o que estamos a ver é um filme sobre Superman ou a nova sequela de “Independence Day”. Quando Superman entra em cena para combate, as imagens parecem mais as de promoção ao vídeo-jogo oficial.
Curioso é o facto de que, para um Summer blockbuster, “Man of Steel” tem mais força nos momentos emotivos (ainda que curtos) do que nas cenas ditas de grande espectáculo.
O filme de 1978 criou magia e a crença que o homem podia voar. Passados 35 anos, a (eterna) revisão é sempre uma experiência encantadora e mística.
Este novo título soa a bubble gum de sabor muito efémero, sem qualquer capacidade de magia.
Provavelmente o título mais frouxo de 2013.
Que 2014 chegue depressa – onde teremos um novo webspin em “The Amazing Spider-Man 2” e boas mutações com “X-Men: Days of Future Past” (por acaso, são dois filmes assinados por realizadores de matriz clássica – Marc Webb e Bryan Singer -; será que ainda não se percebeu que os melhores e mais referenciais filmes de super-heroís são de matriz clássica na realização? – “Superman”/Richard Donner, “The Rocketeer”/“Captain America”/Joe Johnston, “Hulk”/Ang Lee, “X-Men”/Bryan Singer, “X-Men: First Class”/Matthew Vaughn, “Spider-Man”/Sam Raimi, “The Amazing Spider-Man”/Marc Webb).
Site – http://manofsteel.warnerbros.com/index.html
Sobre Superman – http://www.supermanhomepage.com/news.php