Título original – Best Seller
É um filme que ganhou estatuto de culto, seja pelo lado original do argumento (policia e assassino em parceria), pelo argumentista (Larry Cohen já era um nome de culto desde os 70s), pelo realizador (John Flynn vinha de um par de crime thrillers muito elogiados) e pela excelente dupla de protagonistas (uns intensos James Woods e Brian Dennehy).
Dennis Meechum é o único sobrevivente a um assalto a um depósito da Polícia.
Ao descobrir que tudo foi um inside job, Meechum torna-se também um escritor, e de sucesso. Mas os anos passam e nenhuma ideia lhe surge para um novo livro (a morte da mulher afectou-o, emocional e criativamente).
Uma acção policial leva-o a conhecer o misterioso Cleve, um implacável assassino que lhe propõe uma estranha parceria – Cleve vai contar todas as suas memórias e acções que levaram à criação de um império de dinheiro e crime; o objectivo é que Meechum use tal informação para escrita de um livro que leve à ruína do antigo patrão de Cleve.
A parceria não corre pelo melhor (Meechum descobre que a sua “relação” com Cleve já é antiga e quase mortal), mas a perseguição assassina do ex-patrão de Cleve obriga-os a juntarem talentos.
Cohen elabora um argumento engenhoso e criativo, inserido no modelo das buddy-buddy movies então em voga, mas nunca cai no humor nem na sensação que dali vai sair uma forte amizade (apesar do crescente respeito que cada um vai ganhando pelo outro).
John Flynn dirige com garra, mostrando que tal virtude não necessita de grandes meios técnicos ou financeiros, grande estardalhaço de acção nem excessos de violência.
O mérito máximo do filme está mesmo nuns virtuosos James Woods (vindo de “Once Upon in America” e “Against All Odds”, onde deu nas vistas e gerou grandes expectativas) e Brian Dennehy (visto como vilão em “First Blood” e “Silverado”), que defendem os seus personagens com unhas e dentes, fazendo-nos sentir toda a tensão daquela inesperada parceria.
Um robusto thriller que merece (re)descoberta (alguém se lembra da sua estreia, discreta, no saudoso Lumiére?). Até porque já é raro encontrar títulos com estas qualidades.
Tanto quanto sei, o filme está inédito no mercado doméstico português.
A Amazon UK tem uma edição local, a bom preço, com legendas em inglês, espanhol, francês e italiano.
Um título de recomendável (re)descoberta.
Realizador: John Flynn
Argumentista: Larry Cohen
Elenco: James Woods, Brian Dennehy, Victoria Tennant, Allison Balson, Paul Shenar
Bilheteira – 4.2 milhões de Dólares
Trailer
Esteve nomeado para “Melhor Filme”, nos Prémios Edgar Allan Poe 1988. Perdeu para “Stakeout”.
Numa primeira fase, o argumento intitulava-se “Hard Cover”.
Larry Cohen escreveu o argumento inspirado em “Strangers on a Train” (1951, de Hitchcock) e pensou em Burt Lancaster e Kirk Douglas como protagonistas. O filme andou em projecto durante muitos anos, em muitos estúdios.
John Flynn efectuou várias alterações ao argumento de Cohen. Ele e Cohen não se zangaram no processo, tornaram-se amigos e Cohen chegou a enviar vários argumentos a Flynn ao longo de muitos anos.
James Woods tinha abandonado o hábito de fumar. Na cena em que ele brinca com um cigarro, foi o actor que sugeriu que o personagem pegasse num cigarro já aceso.
Woods e Flynn entenderam-se tão bem, que planearam voltar a trabalhar juntos. Infelizmente, tal não aconteceu.
Sylvester Stallone gostou imenso do filme e chegou a falar com Woods sobre Flynn. Entusiasmado, chamou Flynn para realizar “Lock Up”(1989; “por acaso”, um dos melhores filme e performances de Sly).
Cohen sempre se mostrou satisfeito com as escolhas de Woods e Dennehy, mas nunca gostou do final.
Apesar do flop nas bilheteiras, o filme teve boa carreira no mercado de televisão por cabo.