Abraham Lincoln tem um difícil mandato. A Guerra Civil continua longa e implacável. Lincoln enfrenta uma outra guerra, nos corredores da política, onde arrisca tudo na aprovação de uma lei que pode abolir com a escravatura, terminar a guerra e levar os USA a um novo e mais harmonioso rumo.
Depois dos supremos “Argo” e “Zero Dark Thirty”, “Lincoln” é mais uma prova como a História (americana ou não, recente ou mais antiga) é um excelente “adubo” para a celebração da arte cinematográfica, sem esquecer a glorificação de muitos dos “actores” intervenientes nos momentos narrados.
Mas “Lincoln” traz também toda a evocação de um cinema clássico, ele também glorificador da nação americana, dos muitos dos seus (bons) valores e dos “cavaleiros” de tais “bandeiras”. É impossível ver-se “Lincoln” e não se pensar em William Wellman, John Ford ou Frank Capra.
“Lincoln” traz também toda a imagem humana, pura e edificante do carismático líder americano. Mas, com grande sentido de timing, faz-nos sentir a dor do abandono que a sociedade moderna, em plenos tempos de crise, padece da falta de grandes e unificadores líderes.
Puro filme de actores, onde encontramos muitos dos melhores que o meio tem no momento, todos com trabalhos que só roçam o perfeito.
Rigor absoluto em todos os níveis técnicos (com um especial destaque para a fotografia).
Como sempre no grande John Williams, uma bela banda sonora, intimista, sentimental, épica e mesmo presidencial.
E quanto a Daniel Day-Lewis? Pois bem, ele não interpreta Lincoln. Ele É Lincoln. Tal como o imaginamos (e com uma ajuda, fantástica, de uma notável caracterização). A fusão perfeita entre lenda, história e arte de interpretação. Estamos perante um trabalho que não se limita a ficar nos registos do ano, da década ou do século, mas de toda a História do Cinema. Um tributo a Lincoln e à arte (é isto que Lewis faz, arte, e não um trabalho) da representação.
Talvez o argumento pudesse andar mais à volta do homem e deixar a politica para um segundo plano. Mas com os seus (imensos) méritos, o trabalho de Lewis (muito bem acompanhado por todos os companheiros de elenco), a força emotiva de certas sequências (com boa ajuda da música, dos diálogos, da fotografia e das interpretações) e com toda a emotividade que o filme nos entrega no final, “Lincoln” não merece menos que a consideração de obra-prima.
Absolutamente obrigatório.
Para complemento (e como exercício cinéfilo), onde se pode ver uma análise mais centrada em Lincoln, nos seus valores e naquilo que o definiu e o levou a líder da nação americana, recomendo o belo “Young Mr. Lincoln”, com um fantástico Henry Fonda, numa realização de… John Ford.
Young Mr. Lincoln – http://www.youtube.com/watch?v=BJKWguqabUU
Sobre Abraham Lincoln
http://www.whitehouse.gov/about/presidents/abrahamlincoln
http://www.history.com/topics/abraham-lincoln
http://www.thelincolnmovie.com/
Alex Aranda
A Grande Ilusão 