Aquando da escrita do post anterior, aconselhei uma pesquisa mais atenta nos votantes (sobretudo a dos realizadores). Hoje, e continuando a minha pesquisa, vou transcrever para este post a escolha dos realizadores portugueses para o melhor filme de todos os tempos. Não foram muitos os realizadores portugueses que votaram na publicação Sight & Sound, do BFI (Instituto Britânico de Cinema). São eles Manoel de Oliveira, Gonçalo Tocha, Edgar Pêra, Manuel Mozos e Miguel Gomes.
Decidi começar pelo premiado e elogiado Miguel Gomes pelo seu “Tabu”, que disse ter feito uma escolha arbitrária pouco séria em somente três minutos. Vejamos então a lista do Miguel Gomes:
- El (1953), de Luis Buñuel;
- Francisca (1981), de Manoel de Oliveira;
- Não Há Casa Como a Nossa (1944), de Vicente Minnelli;
- A Sombra do Caçador (1955), de Charles Laughton;
- Pedro o Louco (1965), de Jean-Luc Godard;
- O Rio Sagrado (1951), de Jean Renoir;
- O Espírito da Colmeia (1973), de Víctor Erice;
- Tabu (1931), de F.W. Murnau;
- A Mulher Que Viveu Duas Vezes (1958), de Alfred Hitchcock;
- O Feiticeiro de Oz (1939), de Victor Fleming.
De notar a escolha de um filme português de Manoel de Oliveira, no caso “Francisca” cujo único voto que recebeu foi precisamente este. Nestas escolhas somente um filme, veio a fazer parte da lista dos mais votados pelos realizadores: “ A Mulher Que Viveu Duas Vezes”, de Alfred Hitchcock, que nessa lista está em 7º lugar, muito abaixo do lugar que teve na lista principal, a dos críticos – em primeiro lugar, destronando “O Mundo a Seus Pés”, de Orson Wells, lugar que manteve durante cinco décadas. Miguel Gomes fez saber que se esta lista fosse elaborada num outro dia, certamente seria diferente. Para ele, o único que manteria o seu lugar de escolhido seria “O Rio Sagrado”, de Jean Renoir.
O seguinte realizador do qual tive a maior curiosidade em ver os seus votos foi o do Manoel de Oliveira. Os títulos que o nosso decano realizador escolheu foram os seguintes:
- O Couraçado Potemkin (1925), de Sergei M. Eisenstein;
- Gertrudes (1964), de Carl Theodor Dreyer;
- A Quimera do Ouro (1925), de Charles Chaplin;
- O Denunciante (1935), de John Ford;
- Ivan o Terrível (1944), de Sergei M. Eisenstein;
- Viagem a Itália (1954), de Roberto Rossellini;
- Mouchette (1967), de Robert Bresson;
- A Paixão de Joana d’Arc (1927), de Carl Theodor Dreyer;
- Play Time – Vida Moderna (1967), de Jaques Tati;
- Contos da Lua Vaga (1953), de Mizoguchi Kenji.
De notar as duplas escolhas para Eisenstein e Dreyer, assim como o facto de não haver na lista filmes posteriores a 1967, a exemplo da lista dos dez mais dos críticos que não tem títulos com data posterior a 1968. No entanto nenhum destes filmes está nos dez mais da lista dos realizadores, sendo o primeiro a aparecer, na lista alargada dos cem melhores filmes para os realizadores, o filme de Carl Theodor Dreyer, “A Paixão de Joana d’Arc”, em 37º – este mesmo filme, na lista dos críticos aparece no Top Ten, num honroso nono lugar.
O realizador seguinte, sobre o qual fui ver as escolhas, foi Edgar Pêra. Os filmes, para ele foram escolhidos na base, quer do prazer e entusiasmo que lhe deram ao serem vistos, quer na influência que tiveram na sua obra como cineasta. As escolhas foram:
- As Aventuras de Buckaroo Banzai (1984), de W.D. Ritcher;
- A Bela de Dia (1967), de Luis Buñuel;
- No Céu Tudo é Perfeito (1977), de David Lynch;
- As Extraordinárias Aventuras de Mr. West no País dos Bolcheviques (1924), de Lev Kuleshov;
- F de Fraude (1975), de Orson Wells;
- Manderlay (2005), de Lars von Trier;
- Número Dois (1975), de Jean-Luc Godard;
- O Arrependido (1947), de Jacques Tourneur;
- Roma de Fellini (1972), de Federico Fellini;
- Experiência Alucinante (1983), de Davis Cronenberg.
Das escolhas do Edgar Pêra, nenhuma consta na lista dos cem mais votados pelos realizadores. Quatro destes filmes escolhidos por Edgar Pêra, foram escolhidos somente pelo cineasta português: as obras de as obras de W.D. Ritcher, Lev Kuleshov, Lars von Trier e Jean-Luc Godard. A confirmar a exclusividades das escolhas de Pêra, o filme melhor classificado na tabea nem aparece na lista dos cem melhores filmes para os realizadores.
Gonçalo Tocha, realizador do premiado documentário “É na Terra Não é na Lua”, as escolhas foram as seguintes:
- Juventude Em Marcha (2006), de Pedro Costa;
- Nippon-koku Furuyashiki-mura (1982), de Ogawa Shinsuke;
- Petit à Petit (1971), de Jean Rouch
- Pedro o Louco (1965), de Jean-Luc Godard;
- Recordações da Casa Amarela (1989), de João César Monteiro;
- Encontros Com o Diabo (1959), de Haroun Tazieff;
- Route One USA (1989), de Robert Kramer;
- Simão do Deserto (1965), de Luis Buñuel;
- O Tio Boonmee que se Lembra das Suas Vidas Anteriores (2010), de Apichatpong Weerasethakul;
- Yoman (1983), de David Perlov.
As escolhas do Gonçalo Tocha são ainda mais “invulgares”; seis destas escolhas são-no unicamente feitas por ele, que não é alheio o gosto do cineasta pelo cinema documental. Há ainda a salientar as escolhas do cinema português, nas obras de João César Monteiro e de Pedro Costa.
Por último, as escolhas de Manuel Mozos, que escolheu os filmes na base da importância que os mesmos tiveram para ele, ainda que os ache marcos importantes para a história do cinema. São estas as obras escolhidas:
- Bambi (1942), de David Hand;
- O Gabinete do Dr. Caligari (1920), de Robert Wiene;
- A Multidão (1928), de King Vidor;
- O Fantasma Apaixonado (1947), de Joseph L. Mankiewicz;
- O Último dos Homens (1924), de F.W. Murnau;
- Matou (1931), de Fritz Lang;
- A Palavra (1955), de Carl Theodor Dreyer;
- O Homem Tranquilo (1952), de John Ford;
- O Rio Sagrado (1951), de Jean Renoir;
- A Quadrilha Selvagem (1969), de Sam Peckinpah.
As escolhas do cineasta Manuel Pozo são mais consensuais, não havendo nesta caso escolhas em que ele tenha sido o único a fazer essa escolha. A obra melhor colocada na lista dos realizadores é “A Palavra” de Carl Theodor Dreyer, que figura na 19ª posição nessa tabela.
Em resumo, as listas elaboradas pelos cinco realizadores portugueses são bastante heterogéneas, sendo que as mais consensuais no universo dos realizadores de todo o mundo são as de Manoel de Oliveira e Manuel Pozos.
Num próximo post, publicarei a extensa lista dos 100 filmes que estão na lista dos realizadores e poderemos ver a posição dos filmes escolhidos pelos realizadores portugueses. O próximo post será, no entanto, dedicado às escolhas dos portugueses para a lista dos críticos.
Ignatius Bk