Após o 9/11, Osama Bin Laden torna-se o mais procurado homem do mundo. E assim se inicia a maior caça do homem, de sempre. 10 anos de trabalho, com muito suor, sangue e lágrimas, recompensados pelo empenho e profissionalismo de todos os envolvidos. A liderar está uma jovem, determinada, corajosa e transgressora operacional.
Cinco anos depois do trepidante “The Hurt Locker”, a sempre energética Kathryn Bigelow regressa ao Médio-Oriente, ao meio militar e masculino.
Bigelow sempre abordou (com mestria) o mundo masculino, mas agora surge num registo mais “feminista” (algo que já fez no intenso “Blue Steel”). A personagem de Jessica Chastain (numa óptima interpretação, de grande entrega) não se move para mostrar a sua competência ou ganhar lugar no meio (todo povoado por homens), mas para seguir as suas convicções, numa cruzada entre a justiça e a vingança.
Depois de mostrar a desactivação de explosivos como uma “droga” capaz de dar sentido a uma vida, agora é a captura de um homem (o número 1 dos “Most Wanted”) que ganha contornos de obsessão, confundida com profissionalismo, como forma de afirmação da protagonista ou mesmo como único apego a uma vida algo vazia (veja-se a cena final e a cada um as suas conclusões).
Bigelow dirige com bom sentido de ritmo, energético e intenso (mas não se procure aqui as montagens à Tony Scott ou Michael Bay), sempre detalhada nos pormenores da investigação, mas sem desligar toda a carga humana do relato. E tal como em “The Hurt Locker”, apesar do tom documental, Bigelow nunca esquece que está a fazer cinema – as cenas de tortura são de uma impressionante brutalidade física e emocional, com a “cerejinha” a chegar na sequência de assalto ao covil de Bin Laden, que é exemplar em matéria de planeamento, montagem e tensão (protejam bem as unhas).
No final, uma certeza – nada muda sem transgressão das regras e confiança nos nossos instintos. O mundo precisa de mais Mayas.
Depois do sensacional “Argo”, “Zero Dark Thirty” é mais uma prova de como a realidade (“negra” ou “colorida”) serve como uma celebração do cinema, na sua capacidade de entretenimento e espectáculo, mas também de humanidade.
Sem surpresa, um dos grandes filmes de 2013. Kathryn Bigelow continua em grande, a única pessoa no campo da realização a perceber o que é cinema viril e de acção.
É pena que haja riscos de total ignorância nos Oscars 2013. Pode ser que a “vingança” surja nos BAFTA.
Sobre as polémicas (imbecis) que andam aí – desde comparar Kathryn Bigelow a Leni Riefenstahl até considerar-se “Zero Dark Thirty” como um apologista da tortura – só posso considerar como vindas de gente que nada entende de cinema e da sua liberdade criativa (para não usar outros “adjectivos” menos dignos). Talvez Maya lhes dê caça, um dia, e Kathryn Bigelow faça um filme sobre tal.
http://www.zerodarkthirty-movie.com/
Alex Aranda